Entrevista: José Filipe Coelho

Entrevista: José Filipe Coelho

José Filipe Coelho

“ Pelos valores e princípios que defende, o Direito é hoje uma das melhores escolas de formação do país ”

José Filipe jogou em todos os escalões da formação e chegou a sénior. Cedo começou a treinar jogadores que também eles viraram treinadores.
Saiu. Voltou convidado por quem treinou. Hoje treina ao lado de quem jogou. Elogia a Formação do GDD.
E adianta que com o segundo campo, o Direito inicia uma nova página da sua história.

 

Como é que começou a ligação ao râguebi?

Fui jogador dos 8 aos 20 e poucos anos, dos infantis aos seniores, embora tenha jogado pouco tempo neste escalão. Joguei sempre no Direito a abertura e a 1º centro. O meu tio Miguel Celorico Moreira que jogava então nos seniores, levou-me para o Direito.

Recordo-me dos primeiros treinos, do Aguilar treinador, do Lino, do Jonas e “Tó” Cassiano e do “Xico” Bessa com quem joguei sempre. Fiz parte de uma equipa de bons jogadores e de grandes amigos, que venceu todos os campeonatos dos escalões de formação até aos seniores. Curiosamente deu muito poucos jogadores à equipa principal do clube.

Iniciados, Época 1980/81. José Filipe é o segundo a contar da direita, junto ao treinador Mário Cília.

O salto de jogador para treinador acontece…?

Não foi salto, nem programado. Parei um tempo por causa de uma lesão grave e mal curada no tornozelo sofrida num jogo de futebol do liceu. Nessa altura, o Miguel Dores convidou-me para ajudá-lo nos 3/4 do escalão de sub16. Era um equipa com poucos jogadores, inexperientes e indisciplinados. Julgo que não tinham 15 jogadores.

Foi das melhores experiências da minha vida. Apesar de muito jovem, com pouca diferença de idade e de ter feito algumas asneiras, também devo ter feito alguma coisa boa, pois muitos deles ainda aí estão, ligados ao GDD: o João Baptista, o Pedro Ribeiro Ferreira, o Luís Saraiva, o Luís Pina, o João Vasco e o Vasco Condado. Tinha 20 anos e os miúdos 15 ou 16. Depois de deixar de jogar, ainda treinei os sub16 e os sub18 como treinador adjunto.

Em Coimbra, na equipa de sub19 (em baixo, 3º da esq.)

Mas regressou e para treinar miúdos? Seniores, está no horizonte?

Razões? O meu filho ter entrado para os sub8 e a paixão que tenho pela modalidade e pelo treino. Depois de recomeçar é difícil parar, até porque nos afeiçoarmos à equipa e aos miúdos.

Reconheci também na formação do Direito um espírito e um ambiente com o qual me identifico bastante. O Miguel Portela personifica muito disto. Sei que é um trabalho iniciado há muitos anos e que o meu amigo e antigo colega de equipa João Ferreira do Amaral, muito contribuiu. Pelos valores e princípios que defende, o Direito é hoje uma das melhores escolas de formação do país.

Como treinador sub16, ao centro. EUC, abril 1988

Nunca tinha treinado miúdos tão pequenos. Surgiu por acaso quando vim trazer o meu filho aos treinos dos sub8 (hoje nos sub18). Era o Vasco Condado o treinador que me desafiou imediatamente. Desde então, com uma pequena interrupção, tenho treinado os sub10 e os sub12. Seniores, nunca pensei nisso. Hoje isso é para profissionais.

Jogo de veteranos com SLB. Monsanto, junho 2014

Há algum responsável por esta ligação à modalidade?

Na realidade existem três. Em primeiro, o meu tio que me levou para o Direito. Depois o meu pai que, apesar de nunca ter jogado, e por oposição ao futebol, reconhecia neste desporto os valores e princípios importantes para a vida. Finalmente, o meu treinador dos sub12 e sub14 Mário Cília, uma pessoa que gosto de lembrar como decisiva. Nessa altura eu também jogava futebol e podia ter “caído” para aquele desporto. O Mário Cília tinha paixão. Adorava ensinar. Tinha uma paciência ilimitada. Foi ele que me entusiasmou para o râguebi.

E…?

Ao longo da vida tive outros bons treinadores que gostaria de destacar, o Silva e Cunha e o José Goulão, com qualidades diferentes, mas todos eles tinham paixão pelo que faziam. Vi também o contrário, grandes mestres de râguebi que não conseguiam entusiasmar miúdos e graúdos.

Último treino da época. Monsanto, junho 2016

O que é mais difícil conseguir que os miúdos façam? É um misto de pai com professor “mau”? Ou simplesmente o José Filipe?

Depende da idade. Nos sub12 é conseguirmos que os miúdos se descentrem da bola, olhem para o adversário e joguem de forma inteligente, como diz Daniel Hourcade.

Em todas as idades, que sejam uns enormes “Guerreiros” como diz o Miguel Portela.

Parece simples, mas não é. E há que ter muita paixão pelo treino. Só assim se consegue ser um bom treinador, seja lá o que isso for.

Dar jogo ou treinar cenários de jogo?

Nestas idades, cenários de jogo é contraproducente. Através do jogo condicionado, de forma lúdica e desde que bem preparado, conseguimos transmitir-lhes quase tudo. Depois aperfeiçoamos com treino especifico e voltamos ao jogo.

Digressões e torneios são o ponto alto dos miúdos. O que aprendem nesses momentos?

Estes eventos são muito importantes desde que com conta e medida. Nos torneios, aprendem a trabalhar em equipa, a importância de apoiar o colega, a lealdade com o adversário, o respeito pelo árbitro. Depois, a levantarem-se sempre que caem e a nunca desistir. Tudo coisas importantes da vida. Isto é o râguebi. Nas digressões elevam tudo isto ao máximo!

Convívio sub12. Coimbra, dezembro 2016

E o que é que os miúdos lhe ensinam?

Entre muitas coisas, a resfriar o meu espírito competitivo em favor da pedagogia.

Situações engraçadas na vida de treinador que possa partilhar?

Há uns anos, numa volta por Monsanto, com chuva, frio e noite muito escura, dois dos miúdos viram os animais que se passeiam habitualmente por ali. Um deles até viu um meio-urso, meio-panda e outro, uma cobra que descendo de uma das árvores por onde passávamos, se enrolou à volta do meu pescoço.

Por muito valentes que sejam, todos eles sabem que Monsanto está cheio destes perigosos animais, mas também reconhecem que os Ursos não fazem mal, os Lobos só são perigosos se lhes voltarmos as costas e que as Cobras, essas sim, representam uma verdadeira ameaça se as olharmos de frente. Todo o cuidado é pouco e quando corremos por Monsanto, ao passarmos pelas zonas de cada animal, vamos todos juntos e sem fazer barulho, porque à noite todos os gatos são pardos.

 Quantos Lobos passaram pela sua mão?

Por mim não sei. Mas por Monsanto, Ursos, Lobos e Cobras já passaram muitos.

Qual foi o teu maior feito como jogador? E como treinador?

Como jogador, foi ter ganho os campeonatos de sub14, sub16 e vice-campeão sub19 e ter jogado na seleção de Portugal, nos escalões mais jovens. Pouca coisa para os atletas de hoje do nosso clube. Como treinador, quando percebo que vou contribuindo para que pessoas fiquem ligadas à modalidade e ao clube, seja como jogadores ou outra coisa qualquer.

Em ação num treino sub12. EUL, outubro 2015

O que mudou no râguebi nos últimos 20 anos?

Ao contrário do que possam pensar, acho que poucas coisas mudaram, mas que fazem muita diferença e tiveram um grande impacto na forma de treinar e jogar. Os jogadores são verdadeiros atletas e o jogo tem uma intensidade incomparavelmente maior. As condições também são muito melhores.

A maior recompensa que o râguebi trouxe à sua vida?

O râguebi faz-me feliz. Quando depois de tantos treinos, de tanto esforço, os miúdos de repente, num determinado jogo ou torneio, recompensam-nos jogando como verdadeiros campeões. É quando alguém que foi treinado por mim há tanto tempo me diz, que fui importante no seu desenvolvimento enquanto jogador e enquanto pessoa.

Convívio Sub10. Setúbal, dezembro 2014

A terminar. Torneio Internacional: novidades para este ano?

No ano passado eu e o Luís Pina ajudamos a coordenar o trabalho voluntário de treinadores, atletas e pais. Perante as dificuldades que o clube enfrentava quisemos demonstrar à Direção o nosso apoio, seguindo uma célebre frase de John Kennedy – “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela”. Foi isso que fizemos. O dia de râguebi para os miúdos foi memorável e ainda permitiu angariar um valor considerável para o clube. Este ano, são mais equipas portuguesas e mais equipas estrangeiras. Haverá ainda a cerimónia de lançamento da 1ª pedra do Novo Campo. Enfim, tudo aponta para um grande torneio e um grande dia para todos nós. Dentro em breve com o 2º campo, o Direito vai iniciar uma nova página da sua história.

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